Sentei-me muitas vezes ao teu lado.
Olhava para as tuas mãos abandonadas sobre o colo.
Olhava para os teus vestidos, sempre tão brancos…
Olhava para o teu cabelo, para o teu rosto…
Onde só os olhos deixavam por adivinhar
A vida que ainda existia dentro de ti…
Lembro-me de ti assim.
Dos teus gestos sempre vagarosos
Do teu olhar sempre perdido, por esses mundos infinitos
Que só tu conhecias, por entre as pedras da calçada.
Lembro-me quando choraste
Quando percebeste, muito antes de mim,
Que os sonhos morriam…
As lágrimas corriam pelo teu rosto.
Corriam. Corriam. Corriam.
Percebeste muito antes de mim.
Percebeste muitas coisas antes de todos.
Percebeste muitas coisas mesmo antes
De tu própria teres noção que o sabias.
E tu choraste. As lágrimas corriam.
E depois voltei a ver-te.
Mas continuavas a olhar para as pedras da calçada.
Nem me viste a passar por ti.
E os teus mundos infinitos estavam todos lá,
Com os seus habitantes indiferentes e misteriosos.
Descobriste que, muitas vezes,
Antes de conseguirmos honrar os nossos sonhos
Eles podiam morrer.
Os sonhos podiam morrer.
Os sonhos morriam. Os teus morreram.
Percebeste isso antes de mim.
Percebeste tanta coisa.
Antes de mim. Depois de mim.
Até mesmo quando eu estava junto a ti
E te impedia de olhares para a calçada
Para que brincasses comigo.
Às vezes sorrias. E sabias de tanta coisa.
Sorrias como se fosses um anjo.
Sorrias. Sorrias.
Até que percebeste que tinha morrido.
Ele tinha morrido. Os sonhos morriam.
Choraste. E eu tive tanta pena. Tanta pena.