segunda-feira, abril 13, 2009

74

"Eu era sempre o que parecia, tu ias sendo tudo o que parecias. Creio que foi por isso que fomos tão íntimos - e por isso nos afastámos tanto."
(Inês Pedrosa, in Fazes-me Falta)

Jogo de ser e não ser. De cerrar os dentes. De aguentar. Esperar até onde o tempo me leve. Até onde o espaço não me aprisionar. Mas, e agora? Se ainda me dói tanto o que não existiu...
Tento. Mais uma vez. E atravesso-me de lanças, na esperança de conseguir matar este amor destroçado, que vou arrastando, por ti e para ti.
Porquê? Grito! Grito-me! Grito-te!
Porque não me ouves? Porque me deixas sempre com esta sensação de flor que apenas ouviu a chuva ou que nunca sentiu o pousar de uma borboleta? Porque fico eu com esta sensação de folha de jornal abandonado, num jardim qualquer, a encharcar-me nessas gotas, lágrimas de nuvem?
Eu quero lá saber se os outros compreendem o que sinto, ou mesmo o que escrevo aqui. De que me vale talhar-te versos, recortar-te sonetos, aprisionar-te em linhas, se o caminho que levas para afastar-te de mim é das prosas mais frias que li?
Já estivemos próximos, sabes? Tão próximos, que estupidamente me afastei de ti e pensei que seria melhor. Depois veio a falta, sim, a falta. E eu julguei que fosse fácil esquecer. Mas afinal não foi.
Da ingenuidade que sofro, levo a ideia que talvez ainda penses em mim. Da áspera sensação de abandono que me fazes sentir, levo que talvez pouco leves de mim.
Muitos foram os que me disseram que não, eu própria disse que não...
Mas e então, se tão impossível e cheio de dores é, porque continuo eu aqui?
Sabes explicar-me? Nem a pergunta, quanto mais a resposta.