Há medida que o tempo passa, há medida que crescemos de uma forma quase inexplicável, sucedem-se momentos que, em parte, condenam a nossa vida. Momentos que abrem gigantescos buracos negros nas nossas almas e que nos fazem pensar que, mais dia, menos dia, acabaremos por nos projectar neles, sendo o principio tão negro e ao mesmo tempo tão eterno como um fim totalmente inútil que não existe, por a eternidade ser o único ponto que realmente existe em qualquer dimensão.
Há primeiras vezes para tudo. Para respirar, para suster a respiração, para deixar que as lágrimas corram livremente, ainda que cada nova lágrima nunca seja igual a qualquer outra, pois cada uma experiencia uma vivência singular que não mais se voltará a repetir.
Não sei bem se procuro uma justificação para as coisas que não compreendo e não consigo aceitar. Custa tanto. Custa demais. E custa ainda mais perceber que a dor será eterna e que os segundos resolveram transformar-se em dias. Às vezes dói demais, dói como se a dor fosse uma dor morta, que por muito que se reflicta sobre ela, se procure encontrar respostas ou justificações, estas se negam a aparecer. Há saudades que são eternas. Saudades que nos fazem passar a viver recordações que cada vez parecem mais longínquas, e por isso se torna necessário cavar fossos na alma para se chegar a elas. Os olhares o os sorrisos tornam-se prisioneiros de retratos, de fotos que se acumulam pelos moveis, pelas paredes, por todo lado, sendo a sua existência quase proporcional à falta, ao vazio, que se acumula como um peso sufocante. Sim, sufocante. Demasiado triste, demasiado doloroso, demasiado eterno. Um para sempre que é, na realidade, eterno.