quinta-feira, agosto 06, 2009

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"Ele tinha um arzinho tímido, como quem tem medo do escuro. Ela dar-lhe-ia a mão na caminhada do medo se pudesse descansar sobre o peito dele e restabelecer as forças. Ela, menina de olhos meigos, conseguia tocar-lhe com a asa nos cabelos só de lhe retribuir o olhar. Eram os dois pássaro mecânico a voar contra campos de trigo. Porque quando se cruzaram, nasceu um simpático mistério que restaurava as asas a pássaros feridos e os libertava. Durante dias, ele viu-a passar. Todos os dias ela lhe parecia mais bela. Uma nova luz do pássaro ferido renascia sempre que ela o via. Ela chamava-o silenciosamente na distância, ele tentava ouvi-la sem a tocar.
Um dia, ela foi embora sem saber se ele era, afinal, português, inglês ou espanhol. Um dia, ele deixou de a ver sem ouvir a voz que chamava pelo seu coração. Talvez um dia se reencontrem e os corações se reconheçam. Nunca souberam o nome um do outro, talvez porque os pássaros não têm nome. E eles eram pássaros mecânicos movidos pela força secreta do coração."

(Amores Imperfeitos)

Sabes, um dia eu também não irei voltar mais.